sexta-feira, 28 de novembro de 2008

HISTORIANDO AS ARTES II

ARTE MAIA

A sociedade maia considerada a mais importante civilização pré-colombiana, era composta de muitas tribos as quais colonizaram a Guatemala, a península de Iucatã, partes dos Estados mexicanos de Tabasco e Chiapas, Belize, bem como regiões parciais de Honduras e El Salvador.

A história desse povo está classificada em:

. Antigo período pré-clássico – 2000 a.C. - 1200 a.C.

. Médio período pré-clássico – 1200 a.C. - 400 a.C. Durante esses dois períodos surgiram os mais antigos centros de cultura.
. Novo período pré-clássico - 400 a.C . -300 d.C
. Antigo período clássico - 300 - 600
. Novo período clássico - 600 - 900
. Antigo período pós-clássico - 900 - 1200
. Novo período pós-clássico - 1200 - 1520 (chegada dos espanhóis).

Surpreendente é a afinidade com as grandes civilizações mediterrâneas da Antigüidade Clássica, razão pela qual os Maias são chamados de "os Gregos da América".
No período clássico, que coincide com o apogeu da civilização Maia, fundaram-se numerosas cidades, grandes complexos urbanos que funcionavam como centros comerciais, políticos, religiosos e culturais. Por volta do século X, entretanto, os Maias emigraram para a parte setentrional da península de Yucatãn, abandonando suas magníficas cidades, que foram invadidas pela floresta.
Existem muitas hipóteses sobre os motivos dessa migração. Segundo alguns historiadores, teria sido provocada por uma súbita mudança das condições climáticas ou, então, pelo empobrecimento dos solos devido à falta de adubagem e de rotatividade de culturas. Uma das teorias mais plausíveis explica essa migração como sendo decorrência de uma invasão externa por parte dos Toltecas. A partir dessa época teve início o processo de declínio da civilização Maia, interrompido apenas por um efêmero período de renascimento que ocorreu por volta de 1200, na península de Yucatãn.
O conhecimento que se tem da cultura Maia baseia-se em pesquisas arqueológicas e no estudo das estelas e dos códigos manuscritos elaborados por esse povo. Os documentos mais antigos são as estelas, monólitos que apresentam um grande número de inscrições e sinais de calendário.
Entre os Maias, a cronologia tinha como ponto de partida um acontecimento mitológico. A contagem dos anos baseava-se na idéia de que o mundo tivera três idades, que haviam terminado em catástrofes. A partir de um sistema que tem, no seu princípio básico, afinidades com a cronologia atual, o início do mundo para as Maias estaria situado no ano 3113 a.C.
Os Maias possuíam uma concepção dualista da vida, no qual se digladiavam as potências favoráveis ao homem (chuva, luz) e as forças contrárias a ele (seca, guerra, morte).
A divindade suprema era Itzamna, senhor do céu, inventor da escrita e patrono da ciência. Mas, no grande panteão Maia, onde cada aspecto da vida era presidido por uma divindade, havia outras figuras de grande destaque, como Uxchel, deusa da lua e esposa de Itzamna, o deus da chuva Chac, a deusa da morte Ah Puh, e Kukulcãn, deus do vento e da vida. A essas divindades eram oferecidos sacrifícios de animais e sangue humano extraído de diferentes partes do corpo. O sacrifício de vidas humanas, porém, era muito raro, tendo essa prática assumido grandes proporções só depois que a cultura Maia sofreu fortes influências da Tolteca.
A sociedade Maia organizou-se com base em uma complexa estrutura político-social. Da mesma forma que os gregos, os Maias reuniam-se em pequenos agrupamentos políticos semelhantes às cidades-Estado, que podiam associar-se em federações.
Cada cidade-Estado tinha um chefe, intitulado Halac Uinic. Esse cargo era hereditário e freqüentemente ligado à dignidade sacerdotal mais elevada.
Os Maias praticavam a agricultura em larga escala, embora desconhecessem o arado, a adubagem e a rotatividade das lavouras, cultivando basicamente milho, cacau, algodão agave. Além disso, desenvolviam uma intensa atividade comercial, marítima e terrestre, utilizando grãos de cacau, penas de pássaro quetzal e conchas como moeda.

Principais manifestações artísticas:

Arquitetura

A estrutura urbana dessa civilização revela uma nítida diferença entre as cidades Maias antigas e as do período pós-clássico, sobretudo na península de Yucatãn. As primeiras eram essencialmente Centros Culturais, entrepostos para trocas comerciais e núcleos de atividades políticas, não tendo aparentemente funções residenciais. Embora nelas existissem palácios e casas de chefes e sacerdotes, havia uma grande predominância de templos, observatórios astronômicos, praças e campos para o jogo de péla (de caráter sagrado era associado ao tempo: disputado em um campo retangular, consistia no arremesso de uma pesada bola de borracha através de anéis de pedra, fixados nos dois lados do campo. As mãos e os pés não podiam tocar a bola, que devia ser movimentada com a cabeça, com os braços e com as pernas. Esse jogo era disputado em local próximo aos templos e representava o movimento das estrelas). Já as cidades de construção mais recente eram fortificadas e cercadas por muros, sendo os palácios bem mais numerosos que os templos. Estudo de ruínas indicam nitidamente a transformação das cidades cerimoniais em centros predominantemente residenciais.
A maior parte da população Maia vivia em pequenas comunidades dispersas - aldeias, vilórias agrícolas, etc. Nos centros cerimoniais habitavam os membros da classe nobre, senhores e sacerdotes, funcionários da complicada hierarquia civil e religiosa, guerreiros, mercadores, além dos serviçais e, com toda a probabilidade, artífices especializados.
Os templos eram construídos no alto de pirâmides, imitação da colina, lugar sagrado por excelência. Os palácios chegavam a ter várias dezenas de quartos, dispostos em algumas filas e, às vezes, em andares; são, na realidade, apertadas galerias divididas t transversalmente, obscuras e pouco ventiladas, pois quase sempre lhes faltam aberturas ou só possuem estreitas entradas. Edificaram-se também recintos para o jogo de péla, observatórios, arcos de triunfo, balneários de vapor.
O templo era o edifício mais importante, mas a que o povo não tinha acesso. Daí que o espaço interior fosse sacrificado em proveito do aspecto exterior, que devia ter a maior imponência possível. Esta prática chegou a tal grau, que os templos de Petén (Tikal em particular), coroando altas pirâmides, de faces inclinadíssimas, só contêm minúsculos santuários; alguns deles de pouco mais de 1m de largura, enquanto as paredes chegam a ter 6m e 7m de espessura, para suportarem a tremenda carga de platibanda maciça que se ergue sobre o teto e que apenas servia aumentar a superfície ornamentada da fachada.

Escultura

Ao falar da arte escultórica dos Maias deve-se sublinhar a diferença fundamental que separa as obras da região central, por um lado, e as do Norte de Yucatãn, por, outro. Assim, no Petén, na região do Rio Motagua e na bacia do Usumacinta, a escultura, representa mais os homens que os deuses, mostra-nos seres que existiram realmente, e não conceitos religiosos, abstratos ou personalizados; pelo contrário, a escultura clássica da região setentrional é essencialmente religiosa, e são as divindades - quase poderíamos dizer uma única divindade, Chac, nume da chuva, ou símbolos que sob forma abstrata as sugerem, os principais temas esculpidos. Enquanto nas grandes cidades do Centro as manifestações escultóricas se apresentam isoladamente, em estelas, dintéis e tabuleiros, no Iucatãn a escultura é arquitetônica e cobre os frisos das fachadas.
Nas terras secas do Yucatãn, em que a vida das plantas e dos animais dependia da benevolência de Chac, provedor da chuva, era necessário render-lhe homenagem permanente, demonstrar-lhe a devoção do povo pelo seu culto, cobrindo as fachadas com os seus mascarões e diminuindo a importância dos homens, mesmo dirigentes, os quais raramente foram representados nos monumentos do Yucatãn.
Uma síntese de arte Maia, por breve que seja, não pode deixar de lado as maravilhosas esculturas que apesar do seu limitado tamanho e da fragilidade do material de que são feitas, não deixam de ser obras-primas: as estatuetas de barro que foram encontradas em numerosos locais. Modeladas à mão ou moldadas, e talvez policromadas, apresentam uma variedade incrível de seres (animais, vegetais, humanos, sobrenaturais), uma extraordinária fantasia no aparatoso vestuário, uma notável diversidade de indivíduos (homens e mulheres; senhores e gente do povo, sacerdotes, divindades, pares humanos ou mistos - homem ou mulher com um animal, jogadores de péla, tecelões, etc.). Fabricadas para acompanhar os mortos nas sepulturas, são representações da vida, pelo seu realismo.

Pintura

Devido ao seu caráter perecível, a pintura mural raramente se conservou, embora seja provável que fosse utilizada em todos os centros cerimoniais. São conhecidas as composições de tema histórico (cerimônias, palacianas, batalhas, julgamento e sacrifícios de prisioneiros, cenas pacíficas, chegada de invasores) executadas com grande realismo e perícia técnica. Afrescos alusivos a divindades e rituais religiosos aparecem também.
A pintura também foi profusamente utilizada na decoração das vasilhas de barro, desde o período proto-clássico - cerca do início da nossa era - até o clássico tardio, em que floresceu como as outras artes. Os motivos policromados foram primeiramente simbólicos, geométricos ou estilizados quando correspondiam a figuras animais; vieram a ser, depois, naturalistas, apresentando temas sobretudo laicos (senhores recebendo oferendas, mercadores ambulantes, ricos proprietários, etc.) durante o período clássico tardio.

Fonte:

LHUILLIER, Alberto Ruz. HISTÓRIA DA ARTE. Salvat Editora do Brasil Ltda. Tomo 1, Capítulo 10, Páginas 267 a 282


ARTE MAIA

Seus domínios englobavam toda a Península do Yucatán, parte do moderno território do México, como Tabasco e Chiapas, toda a Guatemala, Belize e as regiões ocidentais de Honduras e El Salvador – isto é, mais de 300 mil quilômetros quadrados.
A diversidade física desse território era enorme. O sul era constituído de planaltos vulcânicos cortados por gargantas profundas e áridos vales. Ao norte e ao leste dessas montanhas ficavam as cerradas florestas das terras baixas, que podiam receber até 4 mil milímetros de chuva anual, água essa que era canalizada para o Golfo do México e para o Caribe por grandes bacias fluviais. Ao norte, o terreno mais plano e seco da Península do Yucatán, vasta plataforma calcária coberta de arbustos e árvores baixas, oferecia pouca água além da que podia ser retirada de raras cisternas cavadas na pedra macia, pontilhando o local de grandes e profundos poços circulares.
Sob todos os aspectos, essa região era uma das menos hospitaleiras do hemisfério; seus rigores eram intensificados pela multidão de insetos, serpentes venenosas, aranhas e escorpiões. Apesar disso, os antigos maias conseguiram prosperar ali e, em seu apogeu, a população local chegara a 10 ou 20 milhões. Ao longo de seu desenvolvimento, moldaram uma civilização de extraordinária vitalidade. Haviam emergido como sociedade identificável cerca de mil anos antes de Cristo e alcançaram seu apogeu por volta do ano de 250 da era cristã. Estabeleceram uma elaborada hierarquia política e social e dispunham de avançadas técnicas de agricultura intensiva; ampliaram os tentáculos de sua rede comercial para lugares distantes e aperfeiçoaram sua original arquitetura – pirâmides escalonadas, palácios com arcos de pedra e campos pavimentados para o jogo de bola.
Ao mesmo tempo, expandiram os domínios da mente humana, fazendo uso de poderosos instrumentos intelectuais. De todas as antigas culturas que floresceram na América, a maia foi a única a criar um sistema de escrita totalmente desenvolvido. Utilizavam uma complexa combinação de calendários e outros ciclos de tempo, para registrar datas históricas importantes e acompanhar os eventos astronômicos, fitando o passado e o futuro, imaginando tempos que pareceriam remotos até mesmo para os perspicazes cosmólogos modernos. Seus cálculos e registros se baseavam em um sistema aritmético sofisticado – que incluía um símbolo para o número zero, desconhecido de gregos e romanos – e a precisão de suas observações celestes suplantava em muito as de todas as civilizações da época.
Tudo isso, e muito mais, distinguia os maias como um povo de gênio. Porém, por volta do ano 900 d.C. – mais cedo em algumas localidades, mais tarde em outras -, começou seu declínio, causado provavelmente por uma mescla de fatores que incluíam a superpopulação, a decorrente destruição dos recursos naturais necessários a sua sobrevivência, a ambição desenfreada de seus governantes e a invasão de vizinhos hostis. As cidades das terras baixas do sul e centrais se esvaziaram, e maioria da população maia se deslocou para o norte, em direção ao Yucatán. Por volta de 1450, a velha ordem, com sua elaborada ideologia e sua complexa máquina governamental, também entrou em colapso.
Os mais acreditavam que o universo atual tivesse se formado na data que corresponderia a 11 de agosto de 3114 a.C., no calendário Juliano, e seu sistema cósmico demonstrava que terminaria em 21 de dezembro de 2012 d.C. Na realidade, a morte do mundo conhecido por eles chegou no século 16, juntamente com os soldados espanhóis, os monges colonizadores decididos a refazer o Novo Mundo de acordo com suas ambições e suas crenças.
O primeiro contato entre essas duas culturas tão diferentes foi breve, com a participação da figura de Cristóvão Colombo. Apesar de o grande marinheiro jamais ter aportado nas terras da América Central, em 1502 ele se aproximou da costa norte de Honduras, em sua quarta viagem para o local que ainda se acreditava ser as Índias. Perto da Ilha de Guanaja encontrou uma canoa equipada para o comércio, com 2,5 metros de comprimento, aparentemente escavada em um só gigantesco tronco de árvore. A embarcação levava vários homens, mulheres e crianças, além de pilhas de mercadorias arrumadas sob uma coberta de esteiras trançadas. A carga incluía pratos de cobre, machadinhas de pedra, espadas de madeira com lâminas de sílex afiadas como navalha, vasilhas de cerâmica, sementes de cacau e coloridos tecidos de algodão. Os relatos são contraditórios; não se sabe se o contato foi amigável, com troca de presentes, ou se os europeus simplesmente se apossaram daquilo que lhes interessava. O que se sabe realmente é que o encontro foi breve e que os estrangeiros logo se afastaram, dando pouca importância ao incidente nos registros do diário de bordo. Mas ficaram sabendo pelo menos de um dado significativo a respeito desse povo: vinha de uma região por eles denominada Maia, ou Maiam.
Um confronto posterior teve conseqüências mais graves. Em 1517, três navios espanhóis que navegavam por perto do litoral norte do Yucatán, à procura de escravos, fizeram escala em uma ilha, encontrando templos que foram saqueados pela tripulação e acabaram aportando no continente. Atacados por hordas de guerreiros, os 110 tripulantes conseguiram rechaçá-los com a artilharia dos navios. Quando os europeus voltaram para sua base, firmemente estabelecida em Cuba, e exibiram o produto do saque – que incluía ornamentos em ouro -, o destino dos maias estava traçado. Havia riquezas a conquistar no continente, e ninguém iria impedir os estrangeiros de se apoderar delas, em nome da coroa espanhola.
Hernán Cortés, que já havia destruído o grande império asteca do México Central em quatro anos, enviou então um de seus capitães para conquistar o novo território, na região que hoje engloba a Guatemala e El Salvador. A missão foi cumprida, rápida e brutalmente. Em 1524, o próprio Cortés marchou para leste, para a atual região de Honduras, dispersando os maias que encontrava pelo caminho e, em 1526, outro conquistador desencadeou o processo que permitiria subjugar o Yucatán.
A conquista do Yucatán terminou em 1547, embora alguns maias tenham se embrenhado nas densas florestas do interior, onde sobreviveram por mais de 150 anos, juntamente com seus descendentes.
A guerra e os selvagens surtos epidêmicos de doenças européias, como caxumba, varíola e gripe – contra as quais o povo local não possuía imunidade natural -, ceifaram as vidas de milhões de maias. A maioria dos sobreviventes foi despojada de suas terras e reduzida praticamente à condição escrava. Os senhores espanhóis também estavam decididos a erradicar todos os traços da religião nativa. Templos e santuários foram arrasados, os missionários puniam os suspeitos de idolatria com chicotadas, esticavam suas articulações com roldanas, ou lançavam-lhes água fervente. No Yucatán, o líder desses atos de “limpeza” do paganismo foi um franciscano chamado Diego de Landa.
Além dos dados recolhidos por Landa, praticamente nada que se relacionasse com os maias sobreviveu à conquista. A cultura maia foi sufocada, de todas as formas possíveis. O saber ancestral dos matemáticos e astrônomos foi esquecido – a única escrita autorizada era a européia – e os conhecimentos acerca dos antigos hieróglifos definharam. Enquanto isso, os cipós e as trepadeiras continuavam a invadir as antigas pirâmides escalonadas e os palácios de pedra.
Cerca de um século após a chegada dos europeus, as glórias do passado maia não mais existiam, haviam sido apagadas até da memória dos homens. A partir do final do século 18, pouco a pouco os maias começaram a emergir do esquecimento, graças aos esforços de alguns pesquisadores – aventureiros românticos, ou estudiosos e arqueólogos profissionais.
Uma das estruturas mais bem restauradas é a quadra para o jogo de bola, que possui várias esculturas de cabeça de arara, um símbolo real aparentemente exclusivo de Copán. Os especialistas ainda não sabem muito bem as regras do jogo praticado naquela quadra e em outras semelhantes, encontradas por toda a América Central. Pinturas em cerâmica sugerem que os jogadores arremessavam uma pesada bola de borracha apenas com os quadris e as nádegas, fazendo com que a bola ricocheteassem nas rampas que formavam a parede lateral da quadra, mas evitando que tocasse na parte central. Parece que às vezes a partida era disputada com grande risco, pois a derrota significava a morte por sacrifício. Alguns relevos indicam que um prisioneiro nobre, ou um rei, poderia ser amarrado como uma bola e arremessado de um lado para outro até suas costas se quebrarem.
Mesmo em uma partida rotineira, o jogo era encarado como uma espécie de combate ritual, no qual eram reproduzidos os dramas da religião maia. Afinal de contas, os Heróis Gêmeos haviam enfrentado os senhores do Mundo Subterrâneo em um jogo de bola. Patrocinando, e talvez até participando desses eventos, o monarca daria sua contribuição para que prosseguissem os movimentos do Sol, da Lua e de outros corpos celestes.

ESPELHOS DO POVO

Os maias encaravam o mundo com uma mescla de terror e admiração. A seus olhos, os três níveis do cosmo – o mundo superior dos céus, o mundo intermediário da Terra e o Mundo Subterrâneo dos mortos – transbordavam de energia sagrada. A ordem cósmica seria mantida apenas com a troca de atos generosos entre deuses e homens. Em outras palavras, os deuses continuariam a abençoá-los com alimentos, filhos, sol, chuva e outras graças, desde que os maias lhes dedicassem culto e respeito. Com o tempo, esse dever passou a ser responsabilidade da nobreza ou da elite que, em nome do povo, realizavam os atos rituais de devoção necessários à manutenção do equilíbrio entre o mundo terreno e o sobrenatural.
O desenvolvimento da civilização maia coincidiu com a evolução de um sistema extremamente estratificado de classes sociais. As famílias da realeza, consideradas de origem divina, controlavam todos os aspectos da vida da comunidade, da agricultura à guerra. No topo da aristocracia estava o rei, soberano supremo. De linhagem sagrada, o monarca se comunicava diretamente com os outros mundos; como deus encarnado e líder temporal, estava no centro do universo maia. A tradição determinava que a sucessão deveria ser hereditária, por linha paterna, mas as famílias reais compunham importantes alianças por meio de casamentos, freqüentemente, as mulheres da nobreza ocupavam posição de destaque. Em Palenque, duas mulheres chegaram ao mais alto posto do governo.
O vestuário e os ornamentos da sagrada pessoa do rei representavam muito mais que sinais exteriores de riqueza. Significavam seu poder sobrenatural. A vestimenta da nobreza maia, bem como de seus súditos e cativos, é representada com riqueza de detalhes em figuras de cerâmica – encontradas nas tumbas da Ilha de Jaina, ao largo da costa do Yucatán. Emblemas de poder, os espelhos simbolizavam brilho e soberania. Na verdade, o grande senhor era considerado como o “espelho de seu povo”.

MÚSICA E DANÇA: ALEGRIA PARA OS DEUSES

A música e a dança eram vitais entre os maias, que recorriam a elas para louvar, rezar e agradecer às divindades. Os rituais de iniciação, a caça, a semeadura e a comunicação com os deuses sempre eram acompanhados de composições musicais e coreográficas apropriadas à ocasião.
Apesar de os sons musicais e o ritmo dos movimentos terem se perdido, os músicos e bailarinos são onipresentes em esculturas, murais e cerâmicas. Em todas as representações, músicos tocam tambores, trombetas, flautas e apitos, enquanto os bailarinos executam seus passos – sozinhos, em pares, ou em grupos.
Os tambores eram feitos de madeira, cerâmica, concha ou carapaça de tartaruga; as trombetas, de concha ou de longas cabaças fixadas a varas ocas; as flautas e os apitos, de madeira ou de ossos de cervo.

A BUSCA DE VISÕES NO MUNDO DOS ESPÍRITOS

Em sua condição de intermediária entre os vivos, os deuses e os ancestrais, a realeza maia executava diversos rituais destinados a abrir os portais entre o mundo terreno e o dos espíritos. Nesses rituais, os participantes procuravam atingir um estado de alteração de consciência acompanhado de visões, buscando contato direto com o sobrenatural. Os nobres utilizavam intoxicantes bebidas fermentadas e plantas alucinógenas, não só para induzir essas visões, mas também para atingir uma condição preliminar, propícia a mais importante prática ritual: a sangria.
Havia inúmeras ocasiões para essa prática. Todo evento significativo, do nascimento à morte, da semeadura do milho à ascensão de um rei, requeria uma oferenda de sangue. Mais que um ato simbólico, essa oferenda servia para que os humanos dedicassem aos deuses seu mais valioso dom.

UM JOGO DE VIDA OU MORTE

O clássico jogo de bola maia, praticado pelos nobres, não era um passatempo inocente para uma amena tarde de verão. Nas quadras meticulosamente construídas em locais escolhidos, entre edifícios cerimoniais da cidade, os participantes rememoravam o mítico jogo dos Heróis Gêmeos contra os senhores da morte do Mundo Subterrâneo. Como no mito, que conta a batalha entre a vida e a morte, às vezes o vencido era sacrificado no final do jogo ritual.
Os detalhes desse jogo não são conhecidos, mas a arte maia representa os jogadores com grande detalhe: os braços, os joelhos e o abdome estão sempre protegidos com espessos acolchoados, para amortecer os golpes da sólida bola de borracha maciça, do tamanho de uma bola de basquete.
As atitudes estáticas que agradavam aos artistas maias não impedem que as pinturas transmitam a intensa atividade necessária para manter a bola em movimento.
Apesar de, por muitos anos, os arqueólogos se recusarem a admitir que o jogo tinha caráter sacrificial, a arte e as inscrições maias demonstram que as partidas às vezes terminavam em morte. Os prisioneiros, às vezes identificados nos glifos por seu nome e sua posição social, enfrentavam outros cativos ou um grupo de nobres locais. Há várias representações do final sangrento dessas partidas. O perdedor poderia ser atingido com a pesada bola até a morte, ser decapitado ou servir como bola em um segundo jogo. Enrolado e amarrado, firmemente, era atirado pelas escadarias do templo, ou lançado de um lado a outro da quadra.

OS DEVERES DA REALEZA NA VIDA MILITAR

Durante muito tempo, a falta de fortificações e de vestígios de grandes conflitos levou os arqueólogos a concluir que os maias, ao contrário dos astecas, levavam uma utópica vida pacífica. Mas o exame detalhado da arte e da literatura maia demonstrou mais tarde que, longe de se dedicar apenas aos violentos jogos de bola, eles guerreavam com freqüência e perpetravam sacrifícios humanos. Ao longo de quase toda sua história, as campanhas militares apresentaram as mesmas características, com uma preparação elaborada, batalhas curtas e grande número de prisioneiros.
Um período de intensa atividade ritualística, na qual invocavam a proteção dos deuses, precedia cada ataque. Depois, os guerreiros se cobriam com seus magníficos adornos de batalha – capacetes enfeitados com penas, vestes em pele de jaguar, jóias trabalhadas, berloques e outros adereços simbólicos. Em contrapartida, as armas eram simples e funcionais – principalmente lanças, facas, maças e escudos.
Como a prioridade era capturar o inimigo – e não matá-lo no campo de batalha – os reis maias, que lutavam ao lado de seus soldados, confiavam mais na estratégia e na astúcia que na força bruta. As pessoas comuns se convertiam em escravos dos vencedores, enquanto os prisioneiros nobres eram despojados de seus adornos e mutilados, para ser depois sacrificados aos deuses maias, presumivelmente para o bem de todos.

UM CÉU CHEIO DE SINAIS E DE PRESSÁGIOS NORTEIA A VIDA

Desde o início da história maia, os sacerdotes perscrutavam, nos complexos movimentos dos corpos celestes, os caminhos celestiais dos deuses. Acreditavam que podiam interpretar os sinais dos céus – mensagens das divindades – para prever reveses, saber o futuro das dinastias e identificar o momento mais propício para a semeadura, os casamentos e os rituais sagrados.
A premente necessidade organizar e decodificar esses sinais originou o desenvolvimento de um sofisticado sistema astronômico. Com o tempo, consignaram seus cálculos e sua sabedoria em códices, dos quais apenas quatro fragmentos sobreviveram, revelando um sistema de calendários baseado nos movimentos do sol, da lua e do planeta Vênus.

OS TESOUROS MAIAS

Os artistas maias criaram inúmeras obras-primas, não apenas para o deleite dos olhos, mas também para homenagear seus deuses e soberanos em rituais de veneração, confissão e proteção. Modeladas em argila, gravadas em pedra, em conchas e em minerais coloridos e freqüentemente pintadas em cores vivas, suas obras apresentam enorme variedade de formas – míticas, humanas e animais. Todos os elementos do projeto eram imbuídos de significado espiritual ou simbólico. Por exemplo, supunha-se que a máscara de jade colocada sobre a face de um rei morto conferisse vida eterna a sua alma.
Sem dispor de utensílios de metal, nem da roda de oleiro, os artesãos criaram trabalhos de grande beleza e precisão com o uso de moldes, de técnicas de enrolamento e aplicação, ou mesmo modelando à mão livre. Implementos de pedra e abrasivos eram empregados não só para moldar minerais duros, como o jade, mas também sílex e conchas. A tradição definia a forma e mesmo a decoração da maioria dos projetos; no entanto, os artistas se expressavam com notável liberdade criativa ao tratar de pequenos detalhes.
Na verdade, a maioria das obras de arte maias conta uma história cheia de ação e sensibilidade. Os homens e mulheres que a produziram se exprimiram em um estilo narrativo e naturalista, no qual todos os assuntos são permeados de forma marcante por ferocidade, humor e delicadeza.

O INIGUALÁVEL PERCURSO DOS SÉCULOS MAIAS

Pouco após o final da última Idade Glacial, há cerca de 10 mil anos, os primeiros habitantes da atual América Latina se deslocaram do norte para as terras que mais tarde seriam o domínio dos maias. A área, marcada pela diversidade – com montanhas e planícies, densas florestas e terrenos de escassa vegetação, abrange a Península do Yucatán inteira, todo o território da Guatemala e de Belize, partes do México, de Honduras e de El Salvador. Ao longo de cerca de 6 mil anos, os habitantes transformaram gradualmente sua vida seminômade de caçadores e coletores em uma cultura agrícola, mais sedentária. Aqueles agricultores principiantes passaram a cultivar principalmente milho e feijão, criaram uma série de implementos para moer e preparar os alimentos e começaram a se organizar em pequenas aldeias.
Por volta de 1500 a.C., começaram a construir as primeiras verdadeiras cidades, marcando o início do chamado período pré-clássico, época em que nasceu a civilização maia.

PERÍODO PRÉ-CLÁSSICO
1500 a.C – 250 d.C.

À medida que os primeiros habitantes se tornavam mais hábeis no cultivo e no aperfeiçoamento de seus produtos agrícolas, começaram a aparecer aldeias de denso povoamento nas terras e nas planícies da região maia. Por volta de 1000 a.C., os habitantes de Cuello, no norte de Belize, já dominavam a arte da cerâmica e faziam o enterro cerimonial de seus mortos. A arte maia antiga revela a influência dos olmecas – uma evoluída civilização do Golfo do México, que mantinha relações comerciais com toda a América Central. Segundo alguns especialistas, as idéias de monarquia e de sociedade hierarquizada surgidas entre os maias poderiam resultar da presença olmeca na parte sul da região maia, entre 900 e 400 a.C.
Enquanto o poderio olmeca declinava, os centros maias cresciam e prosperavam. Por volta de 300 ou 250 a.C., grandes cidades como Nakbé, El Mirador e Tikal começaram a tomar forma. Os calendários sagrado e solar já eram utilizados; começava a se desenvolver um sistema hieroglífico e principiava a construção de templos ornamentados com esculturas dos deuses maias e, mais tarde, de seus monarcas. As tumbas reais desse período contêm soberbas oferendas.


PERÍODO CLÁSSICO ANTIGO
250 – 600 d.C.

Por volta de 250 d.C., Tikal e a vizinha Uaxactún estavam entre os centros de poder econômico e político das terras baixas do centro do território. A sociedade era estratificada, com uma nobreza dominante e a classe de camponeses, agricultores, artesãos e outros trabalhadores. A partir do século 3º, os reis ganharam status de divindades e passaram a erigir templos-pirâmides e estelas, nos quais gravaram imagens e inscrições para homenagear a si mesmos e a seus reinos. Rituais envolvendo sangria e sacrifícios humanos desempenhavam o papel de oferendas. A mais antiga Estela conhecida, datada de 292 d.C., provém de Tikal e registra a memória de um descendente do Senhor Yax-Moch-Xoc, que no início daquele século fundara uma dinastia que reinou por seiscentos anos. O nono rei dessa dinastia, Grande-Jaguar-Pata conquistou Uaxactún em 378. Nessa época, Tikal estava sob a influência de grupos de comerciantes guerreiros da grande metrópole de Teotihuacán, dos quais parece ter absorvido o costume das guerras rituais.
Durante o século 6º, um misterioso período de letargia se abateu sobre Tikal: de 534 a 593, foram eregidos poucos edifícios.

PERÍODO CLÁSSICO TARDIO
600 – 900 d.C.

Anunciada por um frenesi de construção de novos palácios e templos, a cultura maia clássica alcançou altos níveis nos séculos 7º e 8º. Tikal reencontrou sua glória, porém evoluíram também vários outros centros poderosos. Na região ocidental, Palenque floresceu sob o reinado do Senhor Pacal, que subiu ao trono em 615 d.C. e foi sepultado, com a pompa de um deus, em 683. A cidade de Copán alcançou proeminência no século 7º, sob o governo de Jaguar-Fumaça, ao longo de 67 anos. Embora se unissem em casamentos reais e partilhassem aspectos culturais – incluindo estilos artísticos e concepções religiosas, esses centros permaneceram independentes e em guerras freqüentes.
A arte progredia, à medida que habilidosos artesãos atendiam às necessidades da elite dominante, produzindo uma variedade de objetos finamente talhados. Os monarcas continuaram a erigir edifícios cerimoniais e inúmeras estelas para sua própria glória. No entanto, a partir do início do século 8º e culminando no século seguinte, a turbulência invadiu a cultura maia das terras baixas. O colapso político atingiu Copán por volta de 822; e 869 é a última data inscrita em Tikal.

PERÍODO PÓS-CLÁSSICO
900 – 1500 d.C.

Falência da agricultura, superpopulação, doenças, invasões estrangeiras, revolução social e guerras incontroláveis – estas são algumas hipóteses que explicariam o colapso da civilização maia nas terras baixas do sul. Por volta de 900 d.C., já não se erguiam edifícios, e as grandes cidades antigas, abandonadas por seus habitantes, se transformavam em ruínas. Mas a cultura maia continuava a prosperar em alguns centros do norte do Yucatán. Caracterizadas por um estilo arquitetônico ricamente ornamentado, as cidades de Uxmal, Kabah, Sayil e Labná, aninhadas entre as Colinas de Puuc, continuaram a se desenvolver até o século 11 da era cristã.
Por volta dessa época, a cidade de Chichén Itzá conheceu dois séculos de progresso. Depois da misteriosa queda de Chichén Itzá, em 1200, a cidade murada de Mayapán se converteu em poder dominante no Yucatán. Governada pela família Cocom por 250 anos, Mayapán foi destruída em 1441, por uma coalizão de chefes rivais. A partir daí, a civilização maia tombou no caos e não tardaria a enfrentar uma catástrofe ainda maior: a chegada dos espanhóis, no início do século 16.

Fonte:

.CIVILIZAÇÕES PERDIDAS – O ESPLENDOR DOS MAIAS. Abril Coleções. 1998, RJ