sexta-feira, 12 de dezembro de 2008


POEMA DE NATAL


Que este Natal
seja um nascimento.
Cimento e cal
para o concreto
de seus projetos.

Seja a semente
daquele passo adiante
que você sempre quis.

Saúde, Felicidade,
Trabalho, Prosperidade,
para você e sua família,
seu povo, sua cidade,
seu país.

Que você realize
todos os sonhos do coração.
Seu jardim floresça,
seus filhos cresçam,
que tudo de bom lhe aconteça
a você e aos que você ama.

Que seus negócios se multipliquem por mil
e tudo que está bom,
seja melhor ainda.

Que a dor e a tristeza
não tenham lugar à tua mesa.
Tudo do bom e do melhor
para você e os seus,
com as graças de Deus.


Autor desconhecido



À todos os meus alunos,

com carinho.


Carlos Medeiros

Dezembro de 2008
HISTORIANDO AS ARTES II

ARTE INCA

Ao longo da cordilheira dos Andes, a cadeia montanhosa mais alta do mundo, depois do Himalaia, a construção de impérios atingiu o seu clímax um século antes da chegada dos Espanhóis ao Novo Mundo, quando o Império Inca se espalhou de Cuzco, nas terras altas do Sul, para o Chile, Nordeste da Argentina e através do Equador e Peru inteiros e parte da Colômbia. Um aspecto do fenômeno inca que é freqüentemente notado é a sua brevidade: o Estado inca durou menos de 90 anos e o Império Inca sobreviveu menos de 50 antes do seu fim, que surgiu com a chegada dos Espanhóis.
A história da trágica queda dos incas é conhecida hoje principalmente pelos relatos dos espanhóis. Em 1524, quando o império estava no auge de sua glória, chegaram à corte do Sapa inca rumores extraordinários: “fortalezas flutuantes” teriam passado ao largo das costas setentrionais, ocupadas por estrangeiros de pele branca e rosto coberto de pêlos, que acabaram conhecidos como “os barbudos”. Essa notícia perturbara muita gente; mais tarde, nobres incas contaram a um cronista espanhol que o próprio imperador, um grande guerreiro chamada Huyana Capac, teve consciência do perigo e pressentiu que um dia aqueles estrangeiros ameaçariam seu trono.
Um ou dois anos depois, o Sapa Inca morreu. Embora seja impossível saber qual a doença que o levou, talvez a varíola, sabe-se que foi introduzida na América pelos conquistadores. Transmitida pelos espanhóis, a enfermidade atingiu os indígenas até mesmo em regiões às quais os conquistadores não haviam chegado. Ela alcançou sem dúvida os territórios ocidentais da América do Sul em 1525, vinda das Caraíbas pela Venezuela e pela Colômbia, lugares em que os europeus já haviam se estabelecido. A epidemia se propagou tão rapidamente entre os incas, sem nenhuma imunidade contra ela, que exércitos inteiros foram dizimados e famílias inteiras atingidas. Além de Huyana Capac, a epidemia levou também seu herdeiro presuntivo. O cenário do conflito estava montado.
Pela tradição, o Sapa Inca devia designar seu sucessor. Embora tal honra coubesse normalmente a um dos filhos da esposa principal, a coya, o escolhido não precisava ser o mais velho, e sim o mais capaz e mais apto para governar. Os nobres reunidos em Cuzco proclamaram um novo Sapa Inca: Huascar, ou “gentil colibri”, cujo nome não refletia nenhuma semelhança, física ou de caráter, com essa ave delicada.
Grande parte da corte não estava em Cuzco, porém mais ao norte, em Quito, cidade conquistada por Huyana Capac e por ele escolhida para terminar seus dias. E foi lá que surgiram as dificuldades. Quito se tornara quase uma segunda capital, dividindo os dirigentes do império, até então unidos, em dois clãs rivais. O exército acantonado em Quito preferia um outro filho de Huyana Capac, Atahualpa, cujo nome significa ”peru selvagem”, grande ave muito respeitada nos Andes. Atahualpa já demonstrara suas qualidades, tendo passado boa parte de sua vida ao lado do pai, nos campos de batalha.
Um veterano espanhol descreveu Atahualpa como “uma ótima pessoa, de estatura média, não muito gordo, com um belo rosto grave e olhos vermelhos, um homem que inspirava muito temor a sua gente”. Como prova do impacto do líder, o mesmo observador conta que viu um importante dignitário “tremer de tal forma em sua presença que não podia se manter em pé”, por medo de desagradar o soberano. Esse medo não era de todo infundado, pois Atahualpa podia ser implacável. Era também dotado de uma inteligência viva, impressionando os espanhóis pela rapidez com que se tornou um exímio xadrezista.
Embora proclamasse sua lealdade ao novo Sapa Inca por diversas vezes, Atahualpa sabia que Huascar poderia vê-lo como rival. Consciente da possibilidade de ser assassinado pelos partidários de seu meio-irmão, caso se afastasse de sua base em Quito, Atahualpa permaneceu surdo a todos os esforços feitos para convencê-lo a ir a Cuzco prestar reverência ao novo soberano. As coisas permaneceram assim durante cinco anos tumultuados. Finalmente, Huascar desencadeou a crise, ao exigir a presença do irmão. Uma vez mais, Atahualpa se negou, enviando em seu lugar embaixadores com presentes. Huascar, incentivado por cortesãos hostis a seu irmão, mandou torturar e matar os emissários e, em seguida, enviou um exército para que Atahualpa fosse conduzido à força para Cuzco. Irado, Atahualpa conclamou seus partidários às armas; o país, já devastado pela epidemia de varíola, mergulhou então nos horrores da guerra civil.
Foi um conflito sangrento e sem trégua, desencadeando o processo de destruiçäo que seria concluído pela invasão espanhola.
Em 1572, os espanhóis decidiram eliminar aquele último baluarte de resistência indígena. Mas, ao chegar de Vilcabamba, eles a encontraram quase deserta: seus defensores haviam incendiado a cidade, antes de empreender a fuga. Os espanhóis os perseguiram em meio à floresta tropical, até capturar o último chefe inca, Tupac Amaru. Ele foi levado para Cuzco, submetido a um simulacro de processo e decapitado na grande praça. Com ele desapareceu a dinastia inca.
O povo inca teve os seus inícios como uma pequena chefia tribal na área de Cuzco, cujo poder local foi aumentando de modo gradual. Por volta de 1440, depois de uma expansão com êxito nas suas vizinhanças, deram início a conquistas mais sérias sob o seu governante, o inca Pachacutec, o "grande homem" da história inca. (A palavra "inca" referia-se originariamente ao governante, considerado como filho do Sol ou como a encarnação terrestre do Sol, mas acabou por ser aplicada aos novos conquistadores de expressão Quéchua). Pachacutec reorganizou também a estrutura econômica e política da chefia, transformando-a num Estado centralizado e estratificado, e reconstruiu Cuzco, que deixou de ser uma cidade de cabanas de madeira e colmo para vir a ser a urbe que tanto impressionou os Espanhóis e tornou famosa a arquitetura inca.
Os Incas são notáveis por muitos traços, mas talvez o sejam muito em especial pela construção de cidades e pelos belos trabalhos em pedra. São lendárias as suas muralhas construídas sem cimento, compostas por enormes pedras cortadas de modo irregular, mas tão ajustadas umas às outras que a lâmina de uma faca não consegue penetrar entre elas. Os Incas construíram não apenas Cuzco, mas muitas outras cidades através do império. Por vezes construíram a partir do zero, outras vezes renovaram os edifícios já existentes. Os enormes blocos de pedra eram laboriosamente retirados das pedreiras, picados e martelados com instrumentos de pedra e depois arrastados sobre rolos ou trenós puxados por cordas, por uma grande força de mão-de-obra. Contra a muralha que se encontrava em construção levantavam rampas de terra e pedras por onde podiam içar os blocos. Os cortes e desgastes finais eram realizados com a pedra no seu lugar, mas esta teria de ser subida, cortada e descida muitas vezes até encaixar perfeitamente nas outras. Um antigo cronista, Pedro de Ondegardo, escreveu que eram necessários 20 homens e um ano inteiro para colocar no seu lugar uma única das pedras de maiores dimensões. Os Incas possuíam fios de prumo, réguas de cálculo paralelas, alavancas e pés-de-cabra em bronze e madeira, e cinzéis de bronze (foram pioneiros na fundição do bronze); entretanto, as ferramentas de bronze não tinham grande utilidade para o trabalho da pedra. Esta era trabalhada com martelos de pedra e polida com pedra ou com areia molhada.
Muito foi o trabalho despendido na construção dos terraços agrícolas e nos sistemas de irrigação. Cuzco tem vastos vales à sua volta, mas em geral há poucas terras planas e aráveis nos Andes, pelo que as culturas eram feitas em terraços nas vertentes das serras, algumas delas muito íngremes. Os terraços eram construídos com muros de pedra para retenção da terra e com camadas de pedra miúda por debaixo da terra para garantia de uma boa drenagem. Os terraços eram atravessados por sistemas de drenagem construídos em pedra.

ESTRUTURA CÓSMICA E SOCIAL

Tal como muitas outras cidades antigas, Cuzco era o "umbigo" do mundo, e é esse o significado do seu nome. O Império Inca era denominado de Tahuantinsuyu, "o mundo dos quatro quartos ou cantos", nome que refletia a divisão oficial em quatro áreas, tendo Cuzco como o centro. As "direções" do mundo eram importantes para os povos pré-colombianos, e os Incas não constituíam uma exceção. Contudo, para eles leste e oeste eram as direções predominantes, porque marcavam o percurso do Sol. Os Incas tinham tendência para a divisão, tanto dos seus conceitos sobre o mundo como da população, em quartos ou metades.
Em teoria - e em grande parte na prática -, a sociedade inca estava rigidamente estruturada. No topo da estrutura encontrava-se o semidivino governante inca. Tal como o império, a cidade de Cuzco estava dividida em quatro quartos, e para cada um deles existiam estritas divisões sociais e de deveres. Os quartos do Tahuantinsuyu encontravam-se divididos em províncias de tamanhos variáveis, cada uma com a sua capital, e as províncias eram por sua vez divididas em metades. Os funcionários que governavam cada um dos quatro quartos viviam em Cuzco, e havia um governador para cada província. Eram todos nobres, e muito provavelmente da família do governante inca.
Dentro de cada província, a população era (ou pelo menos era esse o ideal) dividida de um modo decimal e conduzida por uma hierarquia sujeita ao governador, que era responsável por mais ou menos dez mil almas. Os funcionários de categorias inferiores controlavam números decimais inferiores.
Para que um tal sistema funcionasse era necessário deslocar as pessoas por várias razões. Se um grupo se agitasse por estar sob o domínio dos Incas, poderia ser levado para outro local onde as suas oportunidades para provocarem problemas fossem menores. Se era necessária mão-de-obra, esta era deslocada de acordo com a procura; a abertura de um novo território, a intensificação da agricultura ou o aproveitamento de outros recursos poderiam ocasionar esses movimentos. Era freqüente que esses grupos, denominados de mão-de-obra mitmac, fossem levados para Cuzco, onde as pessoas de um determinado local, organizadas na ayllu (linhagem) tradicional e usando as vestes da sua pátria, eram colocadas numa parte da cidade ou nos seus arredores com outras do mesmo grupo. Conservavam as suas próprias línguas, mas o Quéchua era a língua oficial, a língua franca. Ainda hoje se encontram nomes Quéchua espalhados até tão longe como o Equador.
A hierarquia eclesiástica era controlada pelo imperador e chefiada pelo grande sacerdote do Sol, quase sempre um irmão ou parente próximo do Inca. Essa categoria social compreendia um grande número de sacerdotes e as chamadas aklas, as "Virgens do Sol", mulheres escolhidas para realizar serviços nos templos e durante os rituais. À Inti, deus do Sol e ancestral do Inca, prestava-se um culto especial, sendo a ele dedicado o templo de Cuzco. Entretanto, o deus supremo do panteão inca era Viracocha, pai de Inti e criador dos cinco ciclos da humanidade. Nessa cosmogonia, Inti correspondia ao Sol do último ciclo, no qual os incas se encontravam na época.
Embora pertencente à religião oficial, os rituais praticados nas províncias eram bem mais simples e ligados basicamente à atividade agrícola. A religião inca também estava impregnada de fortes componentes mágicos, como práticas divinatórias e, muito raramente, sacrifícios humanos. Aplicada com extrema severidade, a justiça valia-se da adivinhação para determinar as sentenças que deviam ser aprovadas sempre pelo imperador.
A burocracia centralizada do império comandava cerca de oito milhões de pessoas e exigia um elevado número de funcionários que, como os soldados, eram mantidos pelo Estado.
Os impostos tomavam em grande parte a forma de trabalho. Em geral, um terço de todos os alimentos ou artigos produzidos ia para o Estado, um terço para os deuses (que provavelmente também ia para o Estado) e o terço restante era para o produtor.
Como é natural, a agricultura tinha uma importância primordial e os rituais incas estavam na sua maioria relacionados com o calendário agrícola. Era o próprio governante quem iniciava a época das culturas. À medida que a população cresceu e a esfera de poder se alargou, a produção e controle da distribuição de alimentos tornaram-se cada vez mais importantes. A identificação do governante com o Sol pode muito bem ter sido uma maneira de colocar a ênfase política no controle do governante sobre a agricultura.
Os registros eram mantidos através dos quipus, uma espécie de ábaco feito de cordéis onde podiam ser feitos cálculos por meio de nós colocados em posições de valor decimal. No século XX foram utilizados para o registro de valores do dia-a-dia, mas no passado é possível que tivessem alguns usos esotéricos, sendo talvez usados para finalidades astronômicas ou religiosas.

A PEDRA SAGRADA

Todos os povos pré-colombianos parecem ter tido pedras sagradas ou especiais, mas nesta prática os Incas foram mais longe do que qualquer outro. As emoções em relação à pedra que podia ser vista na arquitetura refletiam-se nos mitos. Há um certo número de variações de mitos de origem inca que podemos encontrar nas crônicas do século XVI. Uma versão diz-nos que o deus criador fez os homens a partir da pedra. Noutra versão, depois de não ter obtido êxito no fabrico do homem, o criador transformou o produto das suas experiências em pedras. Uma história conta-nos que os primeiros incas eram quatro irmãos e quatro irmãs que saíram de uma porta de pedra - ou seja, de uma gruta - numa ilha do lago Titicaca, não longe de Tiahuanaco (Noutros mitos o Sol nasceu de uma roda sagrada nessa mesma ilha). Um dos quatro irmãos voltou à gruta e nunca mais foi visto; dois outros foram transformados em pedra; o terceiro era Mango Capac, o primeiro governante inca, que depois de fundar Cuzco se diz que marcou a terra servindo-se da funda para atirar quatro pedras para os quatro cantos da Terra. Pensava-se que o próprio Mango Capac acabara também por ser transformado em pedra, e que desse modo era transportado para as batalhas por todos os guerreiros incas.
A toda a volta de Cuzco podemos encontrar as pedras sagradas, algumas simples e batidas pelo tempo, outras com a forma de rochas naturais com motivos em degraus, formas retilíneas e outros desenhos. Estas eram "propriedades" de grupos de pessoas, que aí executavam os seus rituais.

O SISTEMA DE ESTRADAS

O cordão vital do Império Inca era uma rede de estradas cujo comprimento total ainda não foi medido mas que deve andar à volta dos 40 000 quilômetros. A estrada principal corria através dos Andes, de Cuzco a Quito, e muitos dos centros incas encontravam-se ao longo do seu percurso. A sua extensão norte levava ao que nos nossos dias é o Sul da Colômbia. Uma outra estrada das terras altas saía de Cuzco para sul, para o Noroeste da Argentina e do Chile, até para lá de Santiago. Existia também uma estrada costeira, ligada em vários pontos com as estradas das montanhas, e havia estradas ligando entre si todas as cidades.
Sempre que possível, os construtores de estradas evitavam os terrenos difíceis - as grandes altitudes, os pântanos e desertos -, mas quando necessário tinham modos notáveis para a ultrapassagem dessas dificuldades. Como o trânsito de rodas não existia - não havia animais de tração -, a construção estava adaptada à geografia e à utilização da estrada. As larguras variavam entre 1 e 16 metros, mas nalguns locais as estradas podiam ser ainda mais largas. Por vezes não se verificava a construção formal de uma estrada: era apenas uma caminho muito utilizado, e em muitos locais serviram-se de estradas pré-incas. Existiam estradas do Horizonte Médio, pois as estradas incas ligavam muitos locais de Huari e Tiahuanaco, e há também algumas provas de que certas estradas datavam do Horizonte Primitivo. Nas montanhas, as estradas incas por vezes estreitavam-se ao longo de falésias. As estradas costeiras eram mais largas e direitas, com pequenas paredes de pedra, adobe ou filas de postes de madeira de cada lado, numa proteção contra a invasão pelas areias do deserto. As estradas que passavam por regiões agrícolas possuíam altas paredes laterais, e quando tinham de passar terrenos encharcados serviam-se de passarelas, pavimentos de pedra e canais de drenagem.
As pontes suspensas que os incas lançavam sobre profundos precipícios são famosas, mas além delas existiam também pontes com superestruturas de madeira ou pedra, pousadas sobre pilares de pedra, bem como alguns exemplos de aproveitamento de pontes naturais, e na região do lago Titicaca as pontes apoiavam-se em pontões de juncos. Nalguns casos o viajante atravessava os rios dentro de um cesto suspenso de cordas ou em jangadas feitas de madeira de balsa, cabaças ou juncos. No entanto, de vez em quando tinha-se de atravessar os rios a nado.
Ao longo das estradas encontravam-se as tambos, estruturas de diversas dimensões que serviam de local de alojamento e armazenamento, e provavelmente eram também a sede da administração local e centros para várias outras atividades. É possível que existissem pelo menos 1000 tambos de diversas dimensões e formas arquiteturais, sendo as maiores nas cidades, enquanto as menores se espaçavam ao longo das estradas à distância de um dia de marcha.
As estradas não eram para ser utilizadas por vulgares turistas. Como importante meio de controle do império, só podiam ser percorridas com uma autorização imperial. A liteira real era transportada ao longo dessas estradas. Era por elas que as populações incas se deslocavam de um lado para outro e por onde marchavam os exércitos que controlavam o vasto império. Os comboios de lhamas - cada animal pode transportar até 45 quilos - transportavam bens de um para outro ponto do império.

TECIDOS: MAIS PRECIOSOS QUE O OURO

Para os invasores espanhóis, o ouro sem dúvida representava a principal riqueza do império inca. No entanto, para os próprios incas, eram os tecidos o produto mais apreciado, provavelmente devido às inúmeras horas de trabalho e dedicação envolvidas em sua produção. Boa parte da população participava da fabricação de tecidos, a começar pelos camponeses, que cultivavam e colhiam o algodão, e pelos que retiravam a lã das alpacas e das vicunhas. Em todas as casas, com exceção da maioria dos lares das elites, as fibras eram lavadas, cardadas, fiadas e depois tingidas e tecidas. As peças de tecido obtidas eram então emendadas – mas jamais cortadas – para fabricar toda espécie de objeto, desde as sacas para os grãos até as roupas e as tapeçarias mais refinadas.
A roupa da maioria das pessoas era a chamada huasca, túnica bem folgada e simples, feita de algodão ou alpaca. Reservava-se o tecido mais fino, o cumbi, para o uso exclusivo do Sapa Inca, de sua família e das pessoas privilegiadas às quais o imperador queria presentear. As vestes de cumbi, feitas de fibras suaves, tingidas com uma variada gama de cores e finamente tecidas em motivos geométricos regulares, designavam a categoria social de seus proprietários. O recorte triangular e os quadrados da túnica, com suas costuras cuidadosamente caprichadas, indicam especial coragem, ou grau militar elevado.
Tecelões profissionais e esposas dos notáveis provinciais produziam o cumbi como pagamento para os impostos. As roupas especiais destinadas aos ritos sagrados ou ao Inca provinham geralmente das mãos habilidosas das “mulheres escolhidas”, votadas ao serviço dos deuses. Em geral, o trabalho de tecelagem era feito em um tear de duas barras, uma delas amarrada com uma corda a um ponto fixo – uma árvore, por exemplo. A outra era presa a uma correia que passava por trás da cintura, tendo os fios da urdidura esticados entre ambas. As vestes produzidas assim tinham a largura máxima do tamanho de um braço, a amplitude que o tecelão podia alcançar. As amostras de tecido preservadas testemunham o trabalho intenso e a vasta quantidade de matéria-prima: uma peça finamente tecida podia comportar até 155 fios por centímetro e necessitar de até 16 quilômetros de linha.

O ENIGMA DO CÓDIGO DE NÓS

Até hoje os pesquisadores desconhecem quais as informações registradas nos quipos, os cordões com nós que os incas utilizavam para contabilizar os recursos de seu imenso império. Cada quipo é único em seu gênero; da corda principal pendem diferentes grupos de cordões, de comprimento e cores variados; provavelmente apenas o criador de cada um, o quipu camayoc, sabia interpretá-lo. Mas, em 1910, o arqueólogo americano L. Leland Locke encontrou um fator comum a todos os quipos: os grupos de cordões representavam quantidades, sendo que cada nó correspondia a um algarismo do sistema decimal.
Por exemplo, 1705 lhamas, ou nascimentos, ou espigas de milho, seriam contabilizados com a ajuda de quatro cordões; o dos milhares, com um nó; o das centenas, com sete nós; o das dezenas, sem nó; e o das unidades, um nó de cinco voltas. As unidades constituíam um caso especial, servindo como referência. Jamais exibiam mais de um nó: havia um nó simples, para o número 1; com duas voltas para o 2; e assim por diante, até o 9.
Os cordéis suplementares, mais finos, pendiam de um dos cordões com nós; é provável que fornecessem informações adicionais, tais como o número de contribuintes pertencentes a determinado grupo.

UMA TEOLOGIA ENRAIZADA NO MUNDO NATURAL

Os incas atribuíam poder metafísico a uma grande variedade de objetos, fenômenos naturais e locais, entre os quais as montanhas, que continuam a ser reverenciadas até hoje por alguns camponeses peruanos. Eles se referiam a esses ícones essenciais de sua religião pelo termo genérico huaca, ou “lugar sagrado”.
O termo huaca era empregado para designar “todos os lugares sagrados destinados a orações e a sacrifícios, bem como todos os deuses e ídolos venerados nesses locais”.

VIDA LONGA PARA O CORPO

Inúmeras múmias datadas de cerca de 400 d.C. foram encontradas no litoral sul do Peru, envolvidas em quatro camadas de tecido de algodão. Um estudioso sugere que cada uma dessas mortalhas pode significar um funeral para o mesmo corpo, refletindo a crença dos incas de que havia quatro estágios na viagem do falecido para o céu. As quatro camadas de tecido serviam também para absorver os fluidos.
A sepultura de uma múmia revela a classe social do defunto. Os nobres eram enterrados em sepultura com vários cômodos, com seus bens, e muitas vezes com a esposa, os acompanhantes e os escravos. Os plebeus geralmente acabavam em túmulos simples, nos campos da comunidade, bem enrolados e rodeados dos poucos objetos que lhes haviam pertencido em vida.

Fonte:

Ø O Império Inca. Civilizações Perdidas. Editores de Time-Life Livros. Abril Coleções, RJ, 1998

Ø GRANDES IMPÉRIOS E CIVILIZAÇÕES - A América antiga. Civilizações Pré-Colombianas. Desta edição, Edições del Prado. Volume II. 1996. Madrid

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

ARTE ASTECA

ARTE ASTECA
Tribo de humildes e obscuras origens nômades, os Astecas conseguem estabelecer-se definitivamente em 1325 em algumas ilhotas de um dos lagos que na época existiam no vale do México. Por volta de 1345, com muita tenacidade transformaram essas ilhotas pantanosas numa das mais extraordinárias cidades da América pré-colombiana: México-Tenochtitlán, cidade lacustre única no seu gênero, com as suas engenhosas chinampas, ou ilhas flutuantes, a sua rede de canais e de calçadas, os seus diques e aquedutos, o seu mercado sem par e o seu imponente centro religioso. Foi apenas em 1428, valendo-se de uma hábil aliança com duas cidades ribeirinhas, que os Astecas começaram a revelar a medida das suas excepcionais aptidões guerreiras e a sua vontade de triunfar a todo o custo. Não eram eles o "Povo do Sol", o povo eleito do seu deus tribal Huitzilopchtli, o Deus do Sol e da Guerra? Confiantes no seu glorioso destino, dominaram em menos de um século, um vasto território, canalizando para a sua formosa capital todas as riquezas das terras dominadas. Em 1434 as cidades de Tenochtitlán, Texcoco e Tlacopán (pertencentes ao antigo Império Tepaneca) reuniram-se em uma poderosa confederação, dividindo entre si os territórios conquistados. Tal fato deu início a história da civilização Asteca que incorporou muitos elementos das sociedades mexicanas que a precedera. Em 1520, foram banidos e dizimados por Hernando Cortes. O nome asteca recebido pelos mexicanos deriva provavelmente de sua terra de origem - Aztlán ou Aztlacán - que correspondia ao atual Estado de Michoacán. Os astecas herdaram culturalmente muitas características dos povos por eles subjugados. Ao mesmo tempo em que cultivavam as artes plásticas, a música e a literatura, conservavam ritos religiosos extremamente cruéis e tinham um comportamento impiedoso na guerra, sobrevivência do seu passado de guerra implacáveis, quando eram temidos até mesmo pelos soberanos a quem prestavam serviços como mercenários. O surgimento de novas divindades eram muito freqüente, mas os sacerdotes procuravam reduzir seu número e considerá-las como aspectos diferentes de alguns poucos deuses mais importantes. Na vida dos homens, refletia-se a eterna luta das forças da luz e do bem contra as forças do mal e das trevas, personificadas respectivamente por Quetzalcoatl e Tezcatlpoca. Ao primeiro, os astecas ofereciam flores e frutos e ao segundo, sacrifícios humanos.
O soberano asteca era eleito por um conselho de nobres sacerdotes e guerreiros, possuindo poderes absolutos, grandes riquezas e várias concubinas. Em torno de sua pessoa criou-se um verdadeiro culto, a ponto de ninguém mais poder encará-lo. Os sacerdotes, os militares e os nobres constituíam as camadas superiores da sociedade, usufruindo de inúmeras regalias. Também os comerciantes, em menor escala, gozavam de privilégios, como a isenção do pagamento de impostos, recompensa por executarem serviços de espionagem para o soberano durante suas viagens. A seguir, vinham os artesãos e, na base da pirâmide social, os assalariados e os escravos. Estes últimos podiam ser prisioneiros de guerra, culpados de graves delitos ou pessoas vendidas por sua família, pois a escravidão não era hereditária.
A princípio, os astecas vivam de caça e da pesca. Posteriormente, passaram a dedicar-se à agricultura, utilizando técnicas rudimentares no cultivo das lavouras. Plantavam principalmente feijão e milho; produtos como o mel, o cacau e o tabaco eram importados de outras regiões. De uma espécie de agave (o manguey), extraíram uma bebida embriagante, o pulque. Um aspecto curioso dessa agricultura era o cultivo de lavouras nas chinampas, jangadas ancoradas no lago Texcoco e cobertas de terra.
Tal como na civilização Maia, os sacerdotes eram depositários da produção cultural. Os astecas possuíam uma escrita próxima da ideográfica e um calendário semelhante ao dos Maias. A medicina era exercida por curandeiros de ambos os sexos. Muitos de seus medicamentos, fabricados com ervas, foram considerados extremamente eficazes pelos espanhóis.

Principais manifestações artísticas:

Arquitetura

Na época de Montezuma II, o Império Asteca tinha uma população em torno de onze milhões de habitantes e Tenochtitlán, sua capital, estava situada numa ilha do lago Texcoco e era ligada à terra firme por várias pontes. Em sua parte central havia um conjunto de templos circundados por muros, recinto em torno do qual se erguiam os palácios reais.
Dos monumentos de Tenochtitlán - nos quais a importância se combina com a elegância das formas - pouca coisa restou, pois a capital asteca foi arrasada pelos espanhóis.
Todos os monumentos do México foram destruídos em 1521, por ocasião do assédio da cidade. Só os conhecemos pelas descrições e os desenhos da época. Fora da cidade devastada, certos edifícios construídos pelos astecas subsistiram.
A arquitetura religiosa tinha por forma mais comum a pirâmide coroada de um santuário. Com suas escadas em declive abrupto, orladas de serpentes emplumadas e suas estátuas porta-bandeiras, estas pirâmides se assemelhavam de perto aos monumentos toltecas.
Sabemos pelas descrições dos conquistadores que o templo de Quetzacoatl apresentava uma forma circular. É que fora erigido em honra deste deus na qualidade de Eacatl, deus do vento: evitava-se opor ao vento as arestas vivas de uma pirâmide. Em Malinalco, nas montanhas que margeiam o planalto de Toluca ao sul, encontra-se um templo talhado inteiramente na rocha viva, o que constitui até o presente o único monumento deste tipo conhecido no México. Destinavam-se indubitavelmente aos cultos celebrados pelos cavaleiros-águias e pelos cavaleiros-jaguares, uma vez que a cripta, a que se chega por uma porta em forma de garganta de serpente, é ornamentada com águias e jaguares esculpidos na própria rocha.
A arquitetura militar tinha, naturalmente, um importante lugar na arte monumental dos astecas, fortalezas e redutos munidos de torres defendiam os pontos de passagem como, por exemplo, a entrada dos aterros que permitiam a travessia do lago. Quanto aos palácios dos soberanos e dos dignitários, nenhum vestígio subsistiu. A julgar pelos testemunhos do tempo, eles deviam conformar-se, no essencial, aos planos dos edifícios maias, zapotecas e toltecas: vastas salas com colunas, passeios interiores, terraços e jardins. A arte dos jardins era particularmente considerada entre os astecas e seus aliados.

Escultura

Inúmeras esculturas, baixos-relevos e estátuas foram destruídos, tanto durante a guerra asteco-espanhola como sob o regime colonial, na luta contra a “idolatria”. Entretanto, o que dela resta no México e nos museus do mundo inteiro assombra pelo número, variedade e perfeição. Os escultores encarregados de fornecer a um templo a estátua de uma divindade eram forçados a conformar-se com as regras de um minucioso simbolismo: o colossal monolítico que representa a deusa Coatlicue mostra-nos a Deusa da Terra – a Terra mãe, que nos sustenta e nos devorará, elemento fecundante e destruidor ao mesmo tempo. Os ídolos de Xipe e Toltec mostram, com um realismo surpreendente, o deus revestido de pele de um sacrificado. Nada mais gracioso que a estátua de Xochipilli, deus da juventude, da música e dos jogos, todo decorado de flores.
As representações de Quetzalcoatl são freqüentes: Tanto se trata de uma serpente de plumas enroladas sobre si própria, levando na cabeça seu hieróglifo ce-actal, como, mais raramente, de um rosto e membros humanos que se combinam com o corpo da serpente.
Numerosos monólitos esculpidos permanecem enterrados, após a queda do México, sob os escombros dos templos e palácios. Alguns foram exumados. O “Calendário Asteca” é sem dúvida o mais célebre dentre eles. Ele resume em seu disco o conjunto de concepções cosmológico e cronológico dos antigos mexicanos. No centro, a imagem do Sol, sedenta de sangue se destaca no meio do signo nauil-ollin, símbolo de nosso universo. A mesma categoria pertence a “Pedra dos Sóis”, que tem em cada uma de suas faces, a data hieroglífica dos universos destruídos antes do nascimento do nosso (compêndio de uma profunda concepção cosmológica).
Embora de pequenas dimensões, certos objetos talhados em pedra dura, no limite da escultura e da cinzeladura, podem ser ligados a esta arte religiosa: por exemplo, os dois crânios de cristal de rocha, uma estatueta de Tezcatlipoca, em jadeíta e uma estatueta de Xolotl, de uma feitura excepcionalmente perfeita.
Se a importância da escultura religiosa foi grande, a da arte profana conheceu, também, um desenvolvimento considerável. Sabemos que os soberanos e os nobres encomendavam obras dos artistas do seu tempo: Montezuma II fez talhar seu retrato em baixo-relevo nos rochedos de Chapultepec por escultores que recompensou faustosamente.
Entre outras obras-primas, uma esplêndida cabeça de cavaleiro-águia. Emoldurado pelos bicos dos rapaces, o rosto do guerreiro reflete, de uma forma surpreendente, a energia e a abnegação desta ordem militar. Mas a estatuária asteca abrange uma gama variada: estátuas de Mateualtin (homens do povo), vestidos somente com sua tanga; anões, corcundas, indivíduos disformes como os que os imperadores e os dignitários gostavam de manter em seus palácios; animais de toda espécie, como lobos, jaguares, rãs, gafanhotos e mesmo vegetais como aboboreiras. Certos baixos-relevos, puramente decorativos, representam aves e flores.
Os astecas fizeram reviver a arte da máscara em pedra, muitas vezes incrustada de turquesas, de obsidiana, de madrepérola, de granada, que tinha atingido um alto grau de perfeição em Teotihuacán na época clássica. Estas máscaras, freqüentemente, tinham uso funerário ou, ás vezes, representando deuses. Deviam ser usadas no curso das cerimônias religiosas.
As esculturas em madeira mal resistiram aos combates, aos incêndios e ao tempo. O que subsiste se reduz a tambores verticais (huehuel) e a teponaztli, gongos de dois tons.

Pintura

Não há dúvida de que os astecas revestiram de pinturas as paredes de seus templos e de seus palácios; obras estas destruídas simultaneamente com os edifícios que adornavam.
O escriba asteca usava o título de pintor (tlacuiloani). De fato, os manuscritos hieroglíficos e pictográficos, fossem os seus temas religiosos, históricos ou mesmo administrativos, constituíam antes de tudo, coleções de imagens, séries de quadrinhos cuidadosamente desenhados e coloridos. Os mais belos “codex” que escaparam às fogueiras espanholas provêm sobretudo do país mixteca (Codex Nuttall) ou da zona mixteca-puebla (Borgia); o estilo dos manuscritos propriamente asteca manifesta uma inegável influência destas culturas. O Codex Borbonicus é um livro ritual, compreendendo notadamente um belíssimo calendário divinatório. O Codex Telleriano Remensis obra histórica, descreve, ano por ano os principais acontecimentos: entronização e morte dos soberanos, guerras e conquistas, inauguração do grande templo, tremores de terra, eclipses, etc. O Codex Mendonza, documento administrativo e financeiro de primeira importância foi redigido , pouco após a conquista espanhola, por escribas astecas que aí transcrevem, por ordem do vice-rei Dom Antonio de Mendoza, os registros do tributo do Império sob Montezuma II. Cada uma de suas páginas enumera em caracteres hieroglíficos as cidades de uma província, a natureza e a quantidade das mercadorias que esta província devia entregar aos coletores de impostos. Ainda que os livros religiosos e históricos sejam ilustrados com miniaturas de cenas muitas vezes complexas, o Mendonza mostra a precisão e a secura de um dossiê apresentado por funcionários. O elemento figurativo é estilizado ao extremo; a pictografia, reduzida ao essencial, se ressente de uma verdadeira escrita.
Considerando-os apenas sob o ângulo estético, estes livros astecas são o testemunho de uma arte rica de tradição e de um gosto sutil. Uma evidente comunidade de estilo os liga às obras da estatuária e do baixo-relevo.

Fonte:

GENDROP, Paul. HISTÓRIA DA ARTE. Salvat Editora do Brasil Ltda. Tomo 1, Capítulo 9, Páginas 229 a 266