quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

ARTE ASTECA

ARTE ASTECA
Tribo de humildes e obscuras origens nômades, os Astecas conseguem estabelecer-se definitivamente em 1325 em algumas ilhotas de um dos lagos que na época existiam no vale do México. Por volta de 1345, com muita tenacidade transformaram essas ilhotas pantanosas numa das mais extraordinárias cidades da América pré-colombiana: México-Tenochtitlán, cidade lacustre única no seu gênero, com as suas engenhosas chinampas, ou ilhas flutuantes, a sua rede de canais e de calçadas, os seus diques e aquedutos, o seu mercado sem par e o seu imponente centro religioso. Foi apenas em 1428, valendo-se de uma hábil aliança com duas cidades ribeirinhas, que os Astecas começaram a revelar a medida das suas excepcionais aptidões guerreiras e a sua vontade de triunfar a todo o custo. Não eram eles o "Povo do Sol", o povo eleito do seu deus tribal Huitzilopchtli, o Deus do Sol e da Guerra? Confiantes no seu glorioso destino, dominaram em menos de um século, um vasto território, canalizando para a sua formosa capital todas as riquezas das terras dominadas. Em 1434 as cidades de Tenochtitlán, Texcoco e Tlacopán (pertencentes ao antigo Império Tepaneca) reuniram-se em uma poderosa confederação, dividindo entre si os territórios conquistados. Tal fato deu início a história da civilização Asteca que incorporou muitos elementos das sociedades mexicanas que a precedera. Em 1520, foram banidos e dizimados por Hernando Cortes. O nome asteca recebido pelos mexicanos deriva provavelmente de sua terra de origem - Aztlán ou Aztlacán - que correspondia ao atual Estado de Michoacán. Os astecas herdaram culturalmente muitas características dos povos por eles subjugados. Ao mesmo tempo em que cultivavam as artes plásticas, a música e a literatura, conservavam ritos religiosos extremamente cruéis e tinham um comportamento impiedoso na guerra, sobrevivência do seu passado de guerra implacáveis, quando eram temidos até mesmo pelos soberanos a quem prestavam serviços como mercenários. O surgimento de novas divindades eram muito freqüente, mas os sacerdotes procuravam reduzir seu número e considerá-las como aspectos diferentes de alguns poucos deuses mais importantes. Na vida dos homens, refletia-se a eterna luta das forças da luz e do bem contra as forças do mal e das trevas, personificadas respectivamente por Quetzalcoatl e Tezcatlpoca. Ao primeiro, os astecas ofereciam flores e frutos e ao segundo, sacrifícios humanos.
O soberano asteca era eleito por um conselho de nobres sacerdotes e guerreiros, possuindo poderes absolutos, grandes riquezas e várias concubinas. Em torno de sua pessoa criou-se um verdadeiro culto, a ponto de ninguém mais poder encará-lo. Os sacerdotes, os militares e os nobres constituíam as camadas superiores da sociedade, usufruindo de inúmeras regalias. Também os comerciantes, em menor escala, gozavam de privilégios, como a isenção do pagamento de impostos, recompensa por executarem serviços de espionagem para o soberano durante suas viagens. A seguir, vinham os artesãos e, na base da pirâmide social, os assalariados e os escravos. Estes últimos podiam ser prisioneiros de guerra, culpados de graves delitos ou pessoas vendidas por sua família, pois a escravidão não era hereditária.
A princípio, os astecas vivam de caça e da pesca. Posteriormente, passaram a dedicar-se à agricultura, utilizando técnicas rudimentares no cultivo das lavouras. Plantavam principalmente feijão e milho; produtos como o mel, o cacau e o tabaco eram importados de outras regiões. De uma espécie de agave (o manguey), extraíram uma bebida embriagante, o pulque. Um aspecto curioso dessa agricultura era o cultivo de lavouras nas chinampas, jangadas ancoradas no lago Texcoco e cobertas de terra.
Tal como na civilização Maia, os sacerdotes eram depositários da produção cultural. Os astecas possuíam uma escrita próxima da ideográfica e um calendário semelhante ao dos Maias. A medicina era exercida por curandeiros de ambos os sexos. Muitos de seus medicamentos, fabricados com ervas, foram considerados extremamente eficazes pelos espanhóis.

Principais manifestações artísticas:

Arquitetura

Na época de Montezuma II, o Império Asteca tinha uma população em torno de onze milhões de habitantes e Tenochtitlán, sua capital, estava situada numa ilha do lago Texcoco e era ligada à terra firme por várias pontes. Em sua parte central havia um conjunto de templos circundados por muros, recinto em torno do qual se erguiam os palácios reais.
Dos monumentos de Tenochtitlán - nos quais a importância se combina com a elegância das formas - pouca coisa restou, pois a capital asteca foi arrasada pelos espanhóis.
Todos os monumentos do México foram destruídos em 1521, por ocasião do assédio da cidade. Só os conhecemos pelas descrições e os desenhos da época. Fora da cidade devastada, certos edifícios construídos pelos astecas subsistiram.
A arquitetura religiosa tinha por forma mais comum a pirâmide coroada de um santuário. Com suas escadas em declive abrupto, orladas de serpentes emplumadas e suas estátuas porta-bandeiras, estas pirâmides se assemelhavam de perto aos monumentos toltecas.
Sabemos pelas descrições dos conquistadores que o templo de Quetzacoatl apresentava uma forma circular. É que fora erigido em honra deste deus na qualidade de Eacatl, deus do vento: evitava-se opor ao vento as arestas vivas de uma pirâmide. Em Malinalco, nas montanhas que margeiam o planalto de Toluca ao sul, encontra-se um templo talhado inteiramente na rocha viva, o que constitui até o presente o único monumento deste tipo conhecido no México. Destinavam-se indubitavelmente aos cultos celebrados pelos cavaleiros-águias e pelos cavaleiros-jaguares, uma vez que a cripta, a que se chega por uma porta em forma de garganta de serpente, é ornamentada com águias e jaguares esculpidos na própria rocha.
A arquitetura militar tinha, naturalmente, um importante lugar na arte monumental dos astecas, fortalezas e redutos munidos de torres defendiam os pontos de passagem como, por exemplo, a entrada dos aterros que permitiam a travessia do lago. Quanto aos palácios dos soberanos e dos dignitários, nenhum vestígio subsistiu. A julgar pelos testemunhos do tempo, eles deviam conformar-se, no essencial, aos planos dos edifícios maias, zapotecas e toltecas: vastas salas com colunas, passeios interiores, terraços e jardins. A arte dos jardins era particularmente considerada entre os astecas e seus aliados.

Escultura

Inúmeras esculturas, baixos-relevos e estátuas foram destruídos, tanto durante a guerra asteco-espanhola como sob o regime colonial, na luta contra a “idolatria”. Entretanto, o que dela resta no México e nos museus do mundo inteiro assombra pelo número, variedade e perfeição. Os escultores encarregados de fornecer a um templo a estátua de uma divindade eram forçados a conformar-se com as regras de um minucioso simbolismo: o colossal monolítico que representa a deusa Coatlicue mostra-nos a Deusa da Terra – a Terra mãe, que nos sustenta e nos devorará, elemento fecundante e destruidor ao mesmo tempo. Os ídolos de Xipe e Toltec mostram, com um realismo surpreendente, o deus revestido de pele de um sacrificado. Nada mais gracioso que a estátua de Xochipilli, deus da juventude, da música e dos jogos, todo decorado de flores.
As representações de Quetzalcoatl são freqüentes: Tanto se trata de uma serpente de plumas enroladas sobre si própria, levando na cabeça seu hieróglifo ce-actal, como, mais raramente, de um rosto e membros humanos que se combinam com o corpo da serpente.
Numerosos monólitos esculpidos permanecem enterrados, após a queda do México, sob os escombros dos templos e palácios. Alguns foram exumados. O “Calendário Asteca” é sem dúvida o mais célebre dentre eles. Ele resume em seu disco o conjunto de concepções cosmológico e cronológico dos antigos mexicanos. No centro, a imagem do Sol, sedenta de sangue se destaca no meio do signo nauil-ollin, símbolo de nosso universo. A mesma categoria pertence a “Pedra dos Sóis”, que tem em cada uma de suas faces, a data hieroglífica dos universos destruídos antes do nascimento do nosso (compêndio de uma profunda concepção cosmológica).
Embora de pequenas dimensões, certos objetos talhados em pedra dura, no limite da escultura e da cinzeladura, podem ser ligados a esta arte religiosa: por exemplo, os dois crânios de cristal de rocha, uma estatueta de Tezcatlipoca, em jadeíta e uma estatueta de Xolotl, de uma feitura excepcionalmente perfeita.
Se a importância da escultura religiosa foi grande, a da arte profana conheceu, também, um desenvolvimento considerável. Sabemos que os soberanos e os nobres encomendavam obras dos artistas do seu tempo: Montezuma II fez talhar seu retrato em baixo-relevo nos rochedos de Chapultepec por escultores que recompensou faustosamente.
Entre outras obras-primas, uma esplêndida cabeça de cavaleiro-águia. Emoldurado pelos bicos dos rapaces, o rosto do guerreiro reflete, de uma forma surpreendente, a energia e a abnegação desta ordem militar. Mas a estatuária asteca abrange uma gama variada: estátuas de Mateualtin (homens do povo), vestidos somente com sua tanga; anões, corcundas, indivíduos disformes como os que os imperadores e os dignitários gostavam de manter em seus palácios; animais de toda espécie, como lobos, jaguares, rãs, gafanhotos e mesmo vegetais como aboboreiras. Certos baixos-relevos, puramente decorativos, representam aves e flores.
Os astecas fizeram reviver a arte da máscara em pedra, muitas vezes incrustada de turquesas, de obsidiana, de madrepérola, de granada, que tinha atingido um alto grau de perfeição em Teotihuacán na época clássica. Estas máscaras, freqüentemente, tinham uso funerário ou, ás vezes, representando deuses. Deviam ser usadas no curso das cerimônias religiosas.
As esculturas em madeira mal resistiram aos combates, aos incêndios e ao tempo. O que subsiste se reduz a tambores verticais (huehuel) e a teponaztli, gongos de dois tons.

Pintura

Não há dúvida de que os astecas revestiram de pinturas as paredes de seus templos e de seus palácios; obras estas destruídas simultaneamente com os edifícios que adornavam.
O escriba asteca usava o título de pintor (tlacuiloani). De fato, os manuscritos hieroglíficos e pictográficos, fossem os seus temas religiosos, históricos ou mesmo administrativos, constituíam antes de tudo, coleções de imagens, séries de quadrinhos cuidadosamente desenhados e coloridos. Os mais belos “codex” que escaparam às fogueiras espanholas provêm sobretudo do país mixteca (Codex Nuttall) ou da zona mixteca-puebla (Borgia); o estilo dos manuscritos propriamente asteca manifesta uma inegável influência destas culturas. O Codex Borbonicus é um livro ritual, compreendendo notadamente um belíssimo calendário divinatório. O Codex Telleriano Remensis obra histórica, descreve, ano por ano os principais acontecimentos: entronização e morte dos soberanos, guerras e conquistas, inauguração do grande templo, tremores de terra, eclipses, etc. O Codex Mendonza, documento administrativo e financeiro de primeira importância foi redigido , pouco após a conquista espanhola, por escribas astecas que aí transcrevem, por ordem do vice-rei Dom Antonio de Mendoza, os registros do tributo do Império sob Montezuma II. Cada uma de suas páginas enumera em caracteres hieroglíficos as cidades de uma província, a natureza e a quantidade das mercadorias que esta província devia entregar aos coletores de impostos. Ainda que os livros religiosos e históricos sejam ilustrados com miniaturas de cenas muitas vezes complexas, o Mendonza mostra a precisão e a secura de um dossiê apresentado por funcionários. O elemento figurativo é estilizado ao extremo; a pictografia, reduzida ao essencial, se ressente de uma verdadeira escrita.
Considerando-os apenas sob o ângulo estético, estes livros astecas são o testemunho de uma arte rica de tradição e de um gosto sutil. Uma evidente comunidade de estilo os liga às obras da estatuária e do baixo-relevo.

Fonte:

GENDROP, Paul. HISTÓRIA DA ARTE. Salvat Editora do Brasil Ltda. Tomo 1, Capítulo 9, Páginas 229 a 266








Um comentário:

lili 2011 disse...

Mano quando perguntarmos uma coisa responde aquela coisa pra que um texto enorme???