sexta-feira, 10 de outubro de 2008

ARTE PALEOCRISTÃ DO OCIDENTE

HISTORIANDO AS ARTES II

ARTE PALEOCRISTÃ DO OCIDENTE
(Séculos III, IV e V)

por Pedro de Palol

O conhecimento da arte cristã tem de principiar pelas pinturas das catacumbas de Roma. É bem evidente que não existe arquitetura cristã anterior ao grande impulso de Constantino e dos seus arquitetos e, por isso, não podemos começar por elas. As comunidades de fiéis viviam e celebravam o seu culto em casas particulares.

As perseguições e a impossibilidade de construir igrejas impediram o nascimento de uma arquitetura própria deste momento inicial do cristianismo. Não sucede o mesmo em relação ao mundo funerário. Várias famílias possuíam terrenos fora das portas da cidade, com licença de usá-los como cemitérios. Aí se procedeu, quando o solo o permitia, à escavação de múltiplas galerias e câmaras, verdadeiras colméias subterrâneas que conhecemos por catacumbas. As famílias pagãs proprietárias deixavam que os cristãos fossem lá enterrados e é nas paredes desses corredores e cubicula que aparece a nova pintura, de intenção apenas funerária. Esta arte é peculiarmente romana. Apesar de existirem catacumbas noutros locais e cidades, as de Roma, de Nápoles do século IV e dos centros da Sicília formam o núcleo mais denso e interessante, cuja pintura está intimamente ligada aos primeiros passos da escultura dos sarcófagos cristãos, já freqüentes nessas necrópoles. Assim, na pintura e na escultura funerárias nasceu a iconografia paleocristã e será nela que o simbolismo da nova religião se concretizará e desenvolverá ao longo do século III e, sobretudo, do IV.
O estudo da arte das catacumbas está hoje especializado e possuímos muitos e excelentes dados de grande rigor para o seu conhecimento. Sabemos atualmente que a pintura teve início no século III, havendo fortes dúvidas quanto à possibilidade de já serem dos finais do século II algumas das obras encontradas.
Nos finais do século II, ou, melhor, em princípios do III, situam-se os trabalhos mais antigos da pintura cristã, encontrados no hipogeu dos Flávios, nas catacumbas de Domitila, na cripta de Ampliato das mesmas catacumbas e na famosa capella greca da catacumba de Priscila. Ainda é evidente a tendência ornamental simples, linear, sobre fundos brancos ou amarelos, como uma regressão completa da pintura ornamental de tipo arrebicado, complexo, arquitetural, amplamente pictórico e colorista dos estilos imperiais romanos, tanto de Pompéia como de outros lugares. Entre linhas enquadradas pelas paredes e abóbadas aparecem individualmente algumas figuras simbólicas, entre as quais o Bom Pastor e o Orante ou a Orante, figurações de Cristo e dos fiéis. É uma iconografia que está aparentada de início com temas mitológicos, como o Cristo-Orfeu, tão freqüente no século III, ou o Cristo-Sol, ou Apolo no carro solar, como no mosaico da abóbada do túmulo dos Júlios, na necrópole do Vaticano, sobre um amplo fundo de videiras eucarísticas. Outras vezes, em lugar de temas figurados, há elementos ornamentais semelhantes aos de certos sepulcros pagãos, como os de Isola Sacra de Ostia Antica, com pássaros, cupidos, representações das estações do ano – tema freqüente na iconografia funerária pagã, nos sarcófagos, etc.
O século III é muito rico em pintura. Na catacumba de São Calisto, no hipogeu de Lucina, ou no dos Sacramentos, enquadradas pelas linhas geométricas, há cenas de salvação segundo os textos do Antigo Testamento. Junto a um Bom Pastor ou ao Orante representa-se Daniel no fosso dos leões e, ao longo das paredes, o ciclo de Jonas e outros que fazem alusão ao batismo e à eucaristia como vias de salvação perante a morte, que é o estado de pecado. Na cripta de Lucina, cabeças femininas representam as estações, tema funerário pagão. Também na capella greca há cabeças de amores (cupidos) entre folhagem junto de cenas do Antigo Testamento (história de Susana) e de um famoso banquete eucarístico, ou fractio panis.
Cerca de meados do século, a arte tende para formas mais clássicas, como as belíssimas cabeças dos apóstolos do túmulo dos Aurélios, junto da Via Manzoni, de fino modelado e datadas de cerca de 240. Do mesmo estilo e qualidade é a famosa Orante do cubículo da velatio, na catacumba de Priscila, obra de meados do século III. Uma nova forma plástica com tendência construtiva, volumosa, que se inicia a partir da moda corrente no tempo de Galieno, manifesta-se na famosa Orante de são Calisto, já dos finais do século III.
Este estilo durará até quase ao fim do século IV. Todavia, na segunda metade do século IV desenvolveram-se outras correntes, como o chamado “estilo belo”, representado, sobretudo nas novas pinturas, mais clássicas, como as da famosa catacumba da Via Latina. Nela, alternadamente, os cobiçou apresentam temas ora cristãos, ora pagãos. O ciclo narrativo, típico da segunda metade do século IV, em especial da história do povo eleito, tem aqui uma beleza singular.
Nos fins do século aparecem os temas triunfais, depois freqüentes na grande pintura e no mosaico monumental. O tema da traditio legis, manifestação plástica da raiz divina da Igreja, será apresentado com muita freqüência. Também se representa Cristo entre os apóstolos, entronizado, triunfante, acompanhado pelo cordeiro místico.
A arte das catacumbas do século V encontra-se representada, sobretudo nas de San Genaro dei poveri, San Guadioso, em Nápoles, entre outras.
Até à paz da Igreja não existe uma arquitetura cristã com tipos artísticos concretos, de funcionalidade litúrgica explícita e apropriada. Todas as igrejas pré-Constantinianas se reduzem aos famosos tituli romanos, denominados de formas distintas: loca ecclesiastica, Domus ecclesiae ou Domus Dei, desde o século III. Esta loca ecclesiastica pertenciam às comunidades e estavam situados, em geral, em edifícios particulares, doados pelos seus anteriores proprietários. A maioria dos tituli estudados em Roma são verdadeiras casas de habitação.
O estado de clandestinidade e de forçado silêncio da Igreja do século III vai mudar radicalmente com o edito de Constantino de 313 e a sua subseqüente proteção da família imperial, em particular da mãe do imperador, Santa Helena. Defini-se uma política diretora da Igreja que levará à monarquia teocrática. Constantino e, seguindo o seu exemplo, os monarcas posteriores e grande parte dos bispos protegem o culto e dão incentivo à construção de grandes igrejas. Nas da família de Constantino veremos aparecer a estrutura basilical – em Roma – e um tipo de templos comemorativos, de planta centrada, chamados martyria, nome que deriva da edícula levantada no Gólgota de Jerusalém, sobre o túmulo de Cristo, o martyrium por excelência; esse tipo virá a ter uma longa e ampla difusão em toda a área do Mediterrâneo e chegará até ao mundo medieval.
Numa breve síntese da gênese desta arquitetura cristã, podemos dizer que a primeira metade do século IV representa o momento um tanto explosivo da sua criação, devida ao impulso imperial, em locais por vezes muito distantes uns dos outros, como Roma, a Palestina – Jerusalém e Belém – e Constantinopla, sem esquecer as construções nas grandes cidades do Império, como Treves ou Aquiléia. Porém não se criaram logo tipos firmes e bem definidos. Estes surgirão na segunda metade do século IV, quando em Roma se repetem, até serem convertidas em norma, certas estruturas basilicais, como a de São Pedro e São Paulo, fixando-se arquitetônica e liturgicamente as variantes criadas pelos arquitetos Constantinianos. Nestes anos também se afirma uma notável arquitetura em Milão.
A arte oficial de Milão, já desenvolvida antes de Santo Ambrósio, teve neste grande bispo e pensador um dos seus maiores estimuladores, pois a levou a novas e transcendentes criações arquitetônicas, com ampla difusão na Itália do Norte, Provença e Norte da Espanha. Na África cristã e na Península Ibérica vai exercer grande influência um novo tipo de igrejas da Síria setentrional, elaborado expressamente pelos arquitetos, segundo um programa adaptado às necessidades litúrgicas, com cabeceiras tripartidas, pelo acrescentamento de pastofórios aos lados da capela-mor. Este tipo, que aparece em meados do século V, virá a ter uma ampla difusão no Ocidente. Os pastofórios (de pastophorium pagão, aposento dos pastophori, sacerdotes que traziam as caixas de imagens dos deuses) eram capelas absidiais situadas aos lados da capela-mor. Uma, o diaconicum, servia para guardar o tesouro da igreja. Também tinha o nome de secretarium, de onde derivou “sacristia”. A outra era o oblatorium, onde se procedia à benção do pão e do vinho.
Ao templo cristão cedo se chamou basílica, à maneira helenística, por referência a Deus como basileus (rei, em grego). Assim nos aparece esta palavra utilizada por Constantino na sua carta a Macário de Jerusalém, relativa à construção do anatasis ou martyrium circular do Gólgota. O problema de saber donde e como nasce o tipo basilicial tem sido objeto de muitos e variados estudos e controvérsias. Podemos dizer que as suas origens são múltiplas, de tal forma que há bons exemplos e argumentos para sustentar as diferentes hipóteses. Era preciso construir um edifício onde os requisitos funcionais – espaço, luz, visibilidade, ampla capacidade para acolher os fiéis, separação dos mesmos, localização do santuário, etc., estivessem adequadamente satisfeitos. Para tudo se encontravam soluções visíveis na arquitetura romana, pública e privada, não se esquecendo, porém que a ordenação do templo deveria possuir um sentido espiritual, pois se tratava da casa de Deus. E assim foram propostos como modelos inspiradores a casa privada – os tituli, de que já se falou, os grandes edifícios públicos, termas, basílica forenses ou jurídicas. Para outros investigadores, a nave do templo derivaria do peristilo dos palácios imperiais, dado que a basílica podia ter uma função paralela à da sala régia de audiências do imperador. Os exemplos romanos de edifícios pagãos adaptados a templos cristãos são, entre outros, o chamado titulus equitii, que se encontra numa casa particular; a Basílica de santa Cruz, no Palácio Sessoriano; a de Santa Pudenciana, nas Termas de Novato; a dos Santos Cosme e Damião, no templo Sacrae Urbis; a de Santa Maria Antiga, na Biblioteca Imperial, e a de santo André, em Catabarbara, no palácio do cônsul Júnio Basso. Portanto, a utilização de edifícios preexistentes que reunissem condições para instalar uma igreja era constante e variada.
O tipo de basílica romana criado ao longo do século IV irá possuir três naves, com abside e telhado de duas águas. A cobertura de madeira dispensa as belas abóbadas da arquitetura monumental romana. As naves estão separadas por colunatas ou arcadas; algumas vezes a altura da nave central motivou o aparecimento de uma dupla colunata sobreposta. Este esquema apresenta belas variantes, principalmente nas basílicas de cinco naves, de que o melhor exemplo é de São Pedro do Vaticano, de fundação Constantiniana.
O Líber pontificalis atribui à iniciativa e à proteção de Constantino a construção em Roma de uma série de templos. O primeiro e o mais antigo é São João de Latrão, junto do próprio palácio imperial, com um batistério circular. São João é acabado antes de 324, talvez entre 312 e 319. Seguem-se a Basílica de São Pedro, no Vaticano, concluída entre 324 e 330; além de outras.
Um programa semelhante iria estender-se a todo o Império. Todos os monumentos demonstram a variedade das soluções apresentadas pelos arquitetos da casa imperial. O mesmo podemos dizer dos edifícios dedicados ao culto dos santos mártires, ou das memoriae da vida de Cristo, ou dos martyria orientais.
Se, por um lado, Constantino dava liberdade aos arquitetos dos diferentes pontos do Império para executarem as obras como entendessem, por outro havia um fator de uniformização com certo peso: a origem comum dos capitéis e colunas lavrados para estas diferentes igrejas, todos saídos das oficinas do imperador.
Milão herda, na segunda metade do século IV, o papel criador Constantiniano da arquitetura cristã. Desta vez, um bispo, Santo Ambrósio, converterá a cidade no centro espiritual do Ocidente. Ambrósio está na linha dos grandes construtores que tanto promovem como edificam, como era tradição na casa imperial. Mas a originalidade arquitetural milanesa já se manifestara antes do seu bispado.
Enquanto Milão cria novos tipos, cuja expressão foi larguíssima, em Roma, ao findar o século IV e durante o século V, estabilizaram-se as concepções palacianas anteriores. À proteção áulica seguir-se-á a eclesiástica. Daí em diante, as igrejas serão construídas por iniciativa pontifícia.
Mais tarde, nos séculos VI e VII, Roma sofrerá profundo influxo oriental. Entre os grandes conjuntos não romanos têm especial interesse os de Salona e de Ravena. Esta longa fase de relevância deixou na cidade uma extraordinária série de monumentos, cujo interesse primordial, para além das próprias realizações arquitetônicas, reside no bom estado atual da sua belíssima decoração de mosaicos, invulgarmente bem conservados. As construções de Ravena integram-se, por um lado, na tradição Paleocristã romana e milanesa da primeira fase do século V.
Sob a proteção da corte, a pintura, já conhecida através dos mosaicos ou dos afrescos das catacumbas, recebe um especial incremento e ganha invulgar beleza desde que lhe foi confiada uma missão mais ampla que a soteriológica (doutrina salvação do homem) da fase precedente. A ilustração doutrinal que deve desempenhar agora a arte da cor e as possibilidades de um desenvolvimento amplo e extenso em dimensão convertem estes séculos IV e V no grande momento da pintura monumental, que a partir do século VI se multiplicará ao longo da Idade Média, através das obras bizantinas e da sua projeção mediterrânica. Roma e Nápoles, Milão e Ravena irão conservar os melhores exemplos desta arte.. É bem conhecido hoje o extraordinário desenvolvimento do mosaico de pavimento, policromo e figurado, nos programas ornamentais da casa imperial e das vilas dos grandes proprietários rurais, seus imitadores. Na época Constantiniana, esta arte decorativa dará mesmo alguns temas tradicionais, de origem pagã, a certos monumentos cristãos.
Um tema histórico, de tradição Constantiniana, mas derivado da arte das catacumbas pela sua técnica pictórica, na segunda metade do século IV, é o Cristo-Mestre entre os apóstolos.
Uma escola, e uma tradição, do desenvolvimento da arte do mosaico inicia-se com o Mausoléu de Gala Placídia - Ravena.
O mausoléu de Gala Placídia, totalmente forrado de mosaicos, constitui um dos conjuntos cromáticos mais belos do mundo antigo.
A maior parte da escultura paleocristã tem caráter funerário. Nada sabemos da arte figurativa que poderia corresponder às grandes composições triunfais do Império, como acontece com o mosaico ou a pintura cristãos. A escultura funerária nasce no século III, através de um processo em tudo paralelo à pintura das catacumbas, e teremos de seguir as suas manifestações estilísticas e técnicas através da arte imperial da tetrarquia e de Constantino, apoiando-nos nas obras de que conhecemos as datas. Assim, é fundamental a técnica da silhueta utilizada no envasamento das decenálias de Diocleciano, no Fórum, de 303-304, ou o estilo dos relevos do Arco de Constantino. Uma longa tradição de escultura funerária pagã servirá de base aos escultores cristãos, a partir do século III, para o conhecimento dos estilos e o estabelecimento da iconografia. O Bom Pastor, como representação bucólica freqüente no paganismo helenístico ou como símbolo de uma das quatro estações, tema funerário clássico, e a imagem da Orante iniciam a iconografia cristã. Juntam-se-lhes, cedo, representações de Cristo-Mestre, reflexo do leitor ou filósofo clássico, e cenas de salvação, como a história de Jonas, para continuar nos temas de orações fúnebres, inspirados no Antigo Testamento.
Três sarcófagos, entre outros, correspondem a este período: o de Gayole-em-Brignoles, França; o da Via Salária (Latrão, 121) e o de Santa Maria a Velha. Estas peças apresentam na sua escultura uma distribuição harmoniosa, um tanto paisagística, dos temas, mas, a partir de Constantino, estruturam-se num friso contínuo. Então, justapostas em uma ou duas faixas, suceder-se-ão as cenas do antigo Testamento, geralmente de inspiração sacramental, misturadas com outras do Novo Testamento, que através dos milagres de Cristo completam um amplo programa de salvação. Por vezes representa-se o retrato do defunto ao centro, dentro de uma concha ou coroa de louros, construindo a famosa imago clipeata.
Em Roma funcionavam importantes oficinas de escultura oficial.
Na segunda metade do século IV, a iconografia mudará. Adquire grande importância o tema da Paixão, aparecendo um tipo escultórico assim denominado, com divisão de cenas mediante elementos arquitetônicos e que contém passos e símbolos ou instrumentos da Paixão. Muitas vezes, o centro do sarcófago é ocupado por uma cruz triunfal coroada de flores, ou pelo colégio apostólico – a Igreja – recebendo a lei das mãos de Cristo.
Ravena virá a ser, após o encerramento das oficinas de Roma com o saque de 410, um centro de escultura muito peculiar. Os seus sarcófagos, de tampa semicilíndrica, com maior abundância de símbolos que de figuras, terão uma personalidade singular ao longo dos séculos V e VI. O encerramento dos centros de produção romanos favorece o aparecimento de diversas oficinas nas províncias. Entre elas é importante a de Arles, na Provença, que continuará fielmente a tradição romana. A sua produção abundante e rica teve uma ampla difusão. Também Cartago e Tarragona eslculpiram no século V as suas próprias obras.

O grupo mais belo das artes industriais paleocristãs é constituído pelos marfins. A série dos dípticos consulares com retratos e nomes dos magistrados, cujo uso era autorizado desde os finais do século IV, é numerosa e constitui, pelo seu estilo, iconografia e retratos, uma das mais ricas fontes da arte do Baixo Império. Também nesta produção de luxo se deve lembrar a importância dos três centros imperiais tantas vezes citados: Roma, Milão e Ravena, trabalhando ao mesmo tempo em que os centros orientais de Alexandria, Síria ou Constantinopla, de maneira que por vezes é difícil distinguir a origem exata das peças. Poucas são as peças de trabalho nitidamente romano, sendo possível atribuir a Milão os melhores marfins deste período.
O reflexo da arte pictórica na miniatura deste período foge-nos por completo. Não conhecemos manuscritos iluminados com temas cristãos do século IV.
Muito original é a arte do vidro, com figuras e inscrições em ouro. Trata-se de fundos de vasos achados nas catacumbas. Neles estão representadas imagens avulsas dos apóstolos e, por vezes, cenas bíblicas. Não só Roma produziu estes tipos de fundos dourados, mas também as oficinas do Reno, em particular de Colônia, muito ativas na produção de vidros no Baixo Império, fabricaram exemplares de iconografia mais complexa, alguns deles com uma verdadeira teoria da salvação através das mesmas cenas do Antigo Testamento que apareciam nas velhas catacumbas.
As províncias da África e da Hispânia constituem a segunda grande área geográfica do mundo artístico do Ocidente cristão. Da mesma maneira que Roma com a Itália e as novas capitais políticas – Treves, Milão, Ravena – formam certa unidade, a África e a Hispânia seguem correntes distintas, mais orientais que itálicas, em especial desde o século V, e com uma personalidade poderosa, afirmada perante Roma. A partir do século IV há notáveis conjuntos arquitetônicos cristãos em centros urbanos episcopais, mas muitas vezes trata-se apenas de aproveitamentos de edifícios oficiais pagãos.
Há que citar o aparecimento e desenvolvimento de um riquíssimo conjunto de mosaicos funerários conhecidos desde tempos recuados. Menos conhecida, a escultura é quase toda de origem romana até o momento em que Cartago começa a produzir os seus sarcófagos.
Durante o século IV, a arte hispânica cristã reflete os modelos romanos e mediterrânicos e os restos que se conservam têm quase todos caráter funerário. Os séculos V e VI revelam uma influência africana e oriental.
Quando as oficinas de escultura de Roma deixam de trabalhar, aparecem os centros hispânicos.
O último capítulo da arte paleocristã hispânica, que corresponde à segunda metade do século V e chegará até ao VI, é constituído pelos mosaicos.

Fonte:

PALOL, Pedro de. História da Arte. Salvat Editora do Brasil Ltda. Tomo 3, capítulo 1. Páginas 3 a 42, S.P.

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